sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Só mais um começo

Será demasiado trivial começar um texto com o titulo de uma música? bem, suponho que sim... No entanto esta música tem surgido bastantes vezes no meu dia a dia, tanto como musica, como representações daquilo que o seu titulo significa. Daí ter escolhido este titulo para o meu texto.
Na vida, pelo menos para mim, tem sido dificil enquadrar o conjunto de actos que dela fazem parte e que me enquadram enquanto pessoa e cristão. Subjacente a cada acto parece haver uma necessidade ora minha, ora da própria sociedade, de justificar a minha existência rotulando cada momento e não considerando cada momento por si só, agrupando-os e definindo-me assim enquanto ser a si pertencente.
Vou então deixar de divagar e tentar mais uma vez expor-vos esta minha confusão. Cada vez mais acredito no bem pelo bem, no agir sem procura de retorno, na necessidade intrinseca de cada um de ser ele e não uma representação desvirtuada que a sociedade faz de si. Eu sei também que ninguem é obrigado a vincular-se ao modelo social e, assim, ficar "escravo" do esboço social.
Por isto decidi chamar a este texto "só mais um começo"... não apenas pela música, mas pelo que esta frase me deixa retirar dela. Escrevo em meu nome não querendo de todo ser tido por alguem que fala em nome de outros e assim desvirtua a sua opinião, mas por mim digo que por vezes não consigo entender esta manifestação social de nos atribuir uma carga ideológica e histórica e assim "encurralar" as nossas acções nos nossos actos passados... Suponho que seja evidente que o Homem como disse Edgar Morin "o homem é um ser bio-psico-socio-historico-cultural" e como tal as suas acções passadas fazem parte da sua geometria, mas não são mais que uma aresta e aqui reside a base da minha opinião, não no facto de vos querer impor a frase de um conhecido filósofo, mas na necessidade e acima de tudo capacidade que o homem tem de se re-inventar a si mesmo e de com essa mesma re-invenção ser um ser enquadrado com o que era mas acima de tudo que optou por recomeçar de novo.
É-me muito dificil expressar o quão fundamental é para mim a visão de que cada homem pode a qualquer instante procurar o perdão, não negando que essa busca tem que partir de si, e que poderá destruir aquilo que começou, no entannto reside aí a liberdade de cada ser humano, no procurar a partir de cada caminho, de cada encruzilhada o ser melhor, não se fixando ao passado mas melhorando com ele para o futuro.
Queria concluir este mais um devaneio, desejando que não me fixe ao que fui nem a cada momento passado e encare cada acção não como inalteravel e caracterizadora final do meu eu mas apenas, e neste apenas não procuro qualque leviandade, como "só mais um começo" tendo em conta que cada começo é um compromisso, um desafio uma procura do ser melhor e não a preversão desta procura.
Com mais esta confusão(e que grande confusão) me despeço.

Tomás

domingo, 11 de abril de 2010

Tempo para mim..

Já não escrevia aqui á muito. Não sei porque razão, se por não ter o que escrever, se por não ter tempo ou por me convencer que não tinha o que escrever ou tempo para o fazer. De qualquer das formas a intenção de criar este espaço de "confusões", foi a de escrever quando senti-se necessário e é o que estou agora a fazer.
Ao longo dos últimos meses (os que intervalaram os textos) passei por muitos "motivos" para escrever até que nestes últimos dias aproveitei para ter tempo para mim, para os outros, mas tudo ao meu ritmo, não ao ritmo que as situações impõem nem ao ritmo desmedido que eu lhes atribuia sem pensar no que conseguia ou não suportar.
Têm sido uns bons dias de paciência comigo e de aprendizagem, sinto-me mais conhecedor do meu espaço e tempo, e se nos últimos meses implementei um espaço ou distância ás pessoas, fi-lo, suponho, por não conhecer o meu verdadeiro sentido de lugar e tempo.
Impõe-se agora definir duas fases relevantes para mim, a primeira foi o que cresci até escrever a 1ª vez, a segunda é o que completei em mim nos últimos tempos.
Suponho que chegamos a uma fase na qual nos interroga-mos sobre o que somos ou não capazes de suportar, de aquilo que queremos para nós, se devemos ou não viver com o passado, se podemos ser ou não um todo..
Ora, agora me apercebo de que tudo isto se foca em cada um de nós, esta análise, ao fazê-la, estou a focar-me em mim. E porque não entender ao "olhar para mim", aquilo que eu e os outros suporta-mos? porque não viver o futuro com o conhecimento do passado? Porque não procurar aquilo que quero para os outros e aí me encontrar a mim?
Daqui nasce o facto de existir uma segunda fase que atrás referi, de agora não só entender o facto de não poder estar "preso ao passado com a tentativa de antecipar o futuro", como essencialmente entender mais uma pequena parte da necessidade de olhar para a minha vida (para já) como um todo com os outros, com as situações que se me deparam, e ainda com o espaço que "ocupo" em cada uma, espaço este que sou eu, que me faz procurar estar bem e entender que só assim consigo estar bem com o resto, e ao mesmo tempo não me esquecer daquilo que uma música que muito gosto fala "num cruzamento quando tens de escolher, podias ver o que eu prefiro e depois.." ora é fácil entender que tenho que procurar os outros, de me entregar, para ser eu, mas ao mesmo tempo tenho que me conhecer para poder resultar com as situações!
Por último sinto ser importante dizer que á um ano e uma semana parti de santiago para o meu "verdadeiro" caminho e que agora esse caminho se deparou com mais uma "encruzilhada" que penso ter conseguido entender e superar, no entanto, não vejo a hora de em agosto partir de novo, me reencontrar onde para mim é tão facil... Comigo e com todos os que me "afundam" o andar, me marcam o caminho ao, de uma forma ou de outra, o fazerem comigo.

Com muitas confusões ainda por encontrar, espero aqui ter, mais uma vez, encontrado o meu espaço, a resolução para esta, e um pouco de mim.

Tomás

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Em dias em que ando bipolar e instável há muito poucas coisas que me transmitam alguma paz ou que me acalmem. Normalmente são músicas e ouvi-las muitas vezes é indicativo de que ando inquieta. Esta tem estado no repeat. Passou de música 'pós-missão' para 'música-para-acalmar-em-qualquer-situaçõe-e-todos-os-dias'.



Note-se que era 'minha' antes de ser da novela.

Carlota

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ceu na terra

Começo este blog com este titulo pois foi o titulo que pensei para o blog, mas mal me preparava para o dar como definitivo a Carlota lembrou-se de um muito melhor (que e o actual titulo do blog).
Começo por aqui porque como acabei de dizer ja me preparava para o dar como definitivo, algo que tenho tendido a fazer nos ultimos tempos, dar as coisas como certas e definitivas, o nome do blog.
Desde sempre gostei de ponderar as minhas decisoes, os meus actos, toda a vida quis controlar-me a mim e as pessoas a quem as minhas decisoes afectavam e com isso esperava poder antecipar as reaçoes que delas advinham. Se aprendi algo, foi que cada acto e efemero assim como as suas consequencias, nao passa de uma questao que o proprio tempo acaba sor superar e necessariamente por perante nos novas questoes novos desafios.

Tendo assim introduzido a razao para o titulo deste texto, passo agora a falar da sua essencia..
Ceu na terra significa, para mim, um dos maiores obstaculos que podem ser postos a alguem que procura "estar" e "viver" com Deus no seu dia a dia, a alguem que no seu pragmatismo tende a prever e justificar as razoes pelas quais O procura e porque age em funçao de o que Ele iria exigir de cada um.
Neste ultimo Verao foi uma surpresa para mim ser capaz de o sentir tao em mim na minha vida do dia a dia.. Estava com a cabeça sem capacidade para filtrar o "coraçao" e tudo o que queria nao era mais do que sair de mim, fugir das reaçoes as acçoes que nao pude nem nunca poderia prever, e desde que "parti" do Obradoiro (na chegadaa a Santiago e partida para o Meu verdadeiro caminho) que nao me sentia em Comunhao com Ele, e foi entao que, depois de me aperceber da fugacidade daquela alegria, me apercebi que o desafio e estar com ele nos momentos da nossa vida em que nao e tao facil "senti-lo" (como enquanto peregrino), e fazer de cada acçao uma razao para que cada bocadinho de "terra" que pisamos,quer a estudar para um exame, quer a estar com quem ainda nos nao e facil pois o tempo ainda nao passou, que simplesmente no correr do dia a dia, seja o ceu que e cada momento que ao viver-mos, o vivemos por Ele.

Da para perceber o porque de ter concordado com a Carlota e dado este Nome ao blog. Acabei de expressar da forma mais simples uma das confusoes que mais me deu "luta a organizar"..
E por estes bocadinhos de "ceu na terra" que estou a escrever, por estes bocados em que as confusoes fluem, e passam a fazer sentido para mim.

Com muitas mais "Confusoes que andam ca dentro" escrevi aqui hoje, confusoes essas que esperam para passar ao papel, ou simplesmente passar por mim.

Tomas
Começo este blogue e um novo (espero) capítulo da minha vida encerrando um outro. O de Missão...fechando ,não, encostando. Vivendo outras páginas, outros lugares, outras gentes e outros momentos. Sendo um novo eu. Um eu melhor e maior. Encerro-o com o meu testemunho de Missão.

"Este ano tenho mais dificuldade em escrever o meu testemunho de Missão. O diário está vazio de palavras e de histórias. Sinto que o meu verdadeiro testemunho de Missão são rostos, sons, momentos e não consigo transmitir nada disso para papel. Para além disto falta tranquilidade e disponibilidade para parar e pensar sobre Missão....dói maningui (muito). Dói por tudo o que vivemos, por tudo o que sentimos, por todos os que ficaram lá. Achei que iria ser mais fácil... Mas há dias e momentos em que o coração fica tão imensamente pequenino. E não sei como calar as saudades e não sei como disfarçar os silêncios que se vão instalando em mim. E queria voltar, E queria ficar (Lá). E não quero estar aqui, E não quero ver estas pessoas... E, depois de tudo isto, volta o esforço de integração e de entrega. Começam a haver momentos menos forçados e já vai custando menos. um dia sairão tão natural e magicamente como Lá. Acredito piamente nisso(ou preciso mesmo de acreditar nisso).

Quando se percorre duas vezes o mesmo caminho correm-se vários riscos: o risco de acharmos que já sabemos tudo sobre aquele caminho, o risco de tropeçarmos nas mesmas pedras onde antes já tínhamos tropeçado ou o risco de já não saborearmos o caminho pelo que é, mas pelo sabor que já estava entranhado em nós. De volta à minha Maxixe volto-me a deixar cativar por ela e pelas pessoas que nela vivem. Passando menos tempo a olhar para cima à procura de estrelas e passando menos tempo a reparar nos meus próprios pés descubro que as verdadeiras estrelas são os donos dos pés que caminham junto aos meus e aqueles que vou descobrindo, tocando e procurando tocar ao longo do caminho. Neste esforço de aproximação e de chegar ao outro pomo-nos ao dispor e procuramos cativar. Acabamos por ser cativados primeiro. É como dar. Recebemos sempre muito mais do que damos, por muito que se dê (e nós demos) recebemos sempre mais – “T.I.A (This Is Africa)”. Lembrei-me tantas vezes desta expressão. Há coisas surreais e revoltantes que só em África acontecem (ou que acontecem mais lá) mas há cosias tão bonitas, tão puras que só lá as vemos, sentimos e vivemos - pelo menos verdadeiramente( Amor, Deus, entrega...).

Descobri tanta coisa este ano.. Descobri que há coisas que são mesmo sobrevalorizadas...como a cor de pele. A vida inteira me disseram que as pessoas em África se chamam pretos( os ditos pretos não gostam de ser chamados assim; preferem negros). A mim, Lá, diziam-me que sou branca, mas que a minha alma é moçambicana - o sinal é evidência disso. Não sei, nem me interessa. Gosto de homens e de mulheres sem cor, sem continente, a Maxixe está repleta de pessoas dessas. Pessoas que ocupam um lugar fora de si mesmas, lugar esse sem limites de tempo, de espaço ou de lógica - o amor.

Descobri ainda que a Maxixe será sempre a minha casa e que me irá sempre envolver e prender, e que haverá sempre mais por conhecer e por amar. Descobri em mim uma capacidade de amar e de me entregar ao outro que não conhecia e o resultado é um amor que não cabe em mim e que não me dá paz. Nesta descoberta de mim e do outro vi e senti Deus tantas vezes e em tantas pessoas, céus! Ele é tão visível Lá.

Com os meus ermãos descobri que cada um de nós é um dom dEle e que os diferentes ritmos e os diferentes tipos de passos só enriquecem a caminhada quando conseguimos encontrar a “nossa melodia” …essa melodia, só é possível com Ele e por Ele. De cada um deles recebi alguma coisa que acrescentei à minha personalidade, neste esforço de ser mais e melhor que é a vivência GAS Africana. Nada do que vivi e do que fiz faria algum sentido se não partilhado nem vivido sem eles os cinco. Nyibonguide (obrigada). Quero que saibam que ‘são importantes para mim’.

Ermã Lottie

Porto, Outubro de 2009"